quinta-feira, 24 de março de 2016
sexta-feira, 18 de março de 2016
Grupo Percurso
Artistas participantes do grupo PERCURSO:
CARLOS NOVAES
SONIA MARA MELLO
ROSA BRUNJE
REGINA OLIVEIRA
segunda-feira, 14 de março de 2016
Poemas II
A cítara que me fere a alma
traz junto a um peito descolorido
uma procissão de fantasmas
labiríntica moradia de um agarrar de momentos
uma lágrima tensa e breve
no último sonho de uma ligação interrompida
nenhum grito
apenas o vulto de uma lembrança
que já ficou velha
a foto de uma trama de possibilidades imóveis
compondo uma respiração deserta
no vagar dos teus olhos
a ausência de um coração vazio
ENTRE A GAIOLA E O ARCO-ÍRIS
Se chegasses de repente
e invadisse
meu corpo de oceano
e me atravessasses com teu barco
sem a agonia de nenhum pacto
se apenas tocasses meu
coração de marinheiro
com a atua boca de chuva
e sem promessas me amarrasse
em tuas veias
se apenas soprasses na aldeia de meus olhos
este piano selvagem que vem
do território mais fundo do teu corpo de montanhas
e se deitasses no leito do fundo do mar
e me penetrasses com esta tua umidade de nuvens
e me envolvesses como um caracol misterioso
e silencioso com esta tua
ausência de estandarte
e se trouxesses em tua s mãos o outono
se entrasses pelo meu corpo
com tuas folhas douradas
se viesses de repente
com este teu coração sem casa
e se instalasses no meu território de asas
talvez eu pudesse pintar
em teu coração esta doce
semente de eucalipto
que vaza pelos teus poros
tenho certeza que este grande rio de agua doce
poderia enxertar em meu sangue este ninho
de andorinhas
mas há um espaço onde andam fantasmas doloridos
Quebraram os teclados do meu piano
costuraram as margaridas
assombraram as paisagens
de uma dor infinita
feriram o branco das estrelas
pintaram o sol com sal
e tiraram o azul do arco-íris
mas sei que se chegasses de repente
e trancasses em meus dentes
a última esperança
poderias abrir este teu
paletó de nuvens
e verias que o arco-íris
nada mais é que o voo
desesperado de um pássaro
que conseguiu abrir as portas
de sua gaiola.
MOTIM
Escancara o albergue
desta dor corrente
arranca o minuto pregado neste laço
represa de vendas este coração
que não mais transpira
e voa com a tua ferida
que não é mais pranto nem ferida nem gemido
é a dor manchada, transpirada, anunciada
dor emissária endereçada
de uivos
laça estas penas tingidas de azul
numa caixa de gesso
que nua eu me sopro e me teço
amanhã já se desfez trançado
em portas a minha fome
a tarde que não consegui
reter um único gesto
a noite veio macilenta
e me embrulhou em polvos
me fez tremula e ávida
a noite me despiu, me viajou
e migrei na umidade deste fruto adocicado
na raiz submarina do corpo
que me molda
rasguei os crocodilos de uma alegria de esfinge
onde o mergulhador
se fez águia no seu voo de éter
onde eu mergulhada em sua crina montei o meu estopim
e me fiz de pastoril
e de urzes e pistilos
me fiz mulher
e por isto não o cais
mas, gaiola
não o naufrágio
mas a proa
não só o mar com as suas ondas
mas a água que lava e risca
o corpo de meandros
quero a penugem e o barro
deste corpo e se possível
a fruta e o milagre
quero o anjo perfumado
a febre e a paisagem
por onde a alma toma o leite e o queijo
por onde o corpo toma o mel
dormir nas folhas
sem fantasmas aliviada e festiva
quero o vinho e a planície
o sino e o eucalipto
não para a dor confusa
não o assovio sem extremos
o amalgar da vida e da alma
no delírio do infinito
VESTE o teu chapéu denso e cristalino
cobre a cabeça antes que que desça e ande a noite
sobre tua cabeça
chovendo
como chove a dor que gruda
nas lágrimas deste peito
deita no chão deste espanto
e cobre este corpo com este chapéu negro
para que só teu corpo fique respirando
livre e solto como um relâmpago
e me deixa só
com as minhas mãos em chamas
chamando pelos meus olhos viajeiros
porque sou apenas o sopro
o súbito
o lamento estéril de um canto que soa no escuro
e se me pedisses para caminhar
em rumo a estrada
eu te responderia
que não soou o apito
e que o caracol dorme ainda
debaixo do tijolo
e que há também uma casa
com um grito de fitas coloridas
e uma tarde onde eu espero
com minha janela
dependurada num pátio pálido
e ficaria para fazer um chá
do cordão umbilical que atravessa decisões amargas
como amarrada fiquei quando
tomei a minha sopa de sal
sentada numa poltrona perfumada
de tantas noites
o domínio exercido neste cavalo selvagem
passeador de minha velocidade
traiçoeira são velocidades retidas
que molham aos borbotões
onde me preparo atmosférica
e me visto com minha interminável asa
nadando em minha espada vermelha
onde acendi meu candelabro retorcido
reunidos na minha fadiga
submetidos ao meu silencio em fúria
onde meu sonho desmedido cessou trágico
infringindo o contato de minha superfície
como uma mancha
como uma atitude de imposto
onde me exerço
onde me endereço
com as minhas atitudes
com que me determino
espreitando a fera
e a sombra úmida das minhas veias verdes
compreendi os intervalos e os cansaços
e fiquei aliviada com a umidade
remexida do sublime que se interpõe
vestindo a máscara de
uma história que se defronta
com o impossível
de um cérebro cansado
que farei com os minutos desassossegados
desta minha espécie confusa
que farei com as memorias deste circo?
com os pedaços deste vaso
com os cacos e os astros
que festejam a dualidade
das mudanças
acumulo dividas e duvidas
tantas vezes hipotequei a alma
adiei os juros de uma vida sem cálculos
transpus o medo
mas fui executada em todo o percurso
para uma vida em fatias
os algozes me despatriaram
cobraram as minhas rasuras
as minhas matemáticas que só somaram
num tempo em que multiplicar
e dividir é a lei
cobram o meu voo
e ainda não voei
cobram apenas o meu sonho
e até quando irei dando apenas recados
quando a minha liberdade
só se vai fazer com a minha história
o cordão umbilical foi minha corda
o amor foi um salario parco
onde me deti e me atrasei
fora de mim
cultivaram a violência
e não aprendi ainda
a lidar com a execução
me tornei refém dos meus sapatos furados
que um dia pensei vestir de estrelas
vim para pagar muito caro pela minha sede
pelos demônios que me abafam
pelas ceias azedas de uma mesa de jantar
povoada por bonecos
onde a minha oferenda foi meu soluço
onde o meu peso foi o meu limite
se os sinos transformaram os ponteiros
e os relógios em estrelas
dentro de mim
para dentro cada vez vou mais
é para esta viagem solitária que me preparo
sem me deter mais
com os barbantes
vou um dia ultrapassar os limites do sons de minhas flautas
sem fronteiras
porque terei conseguido
flutuar em tudo que reneguei
nesta vida
só assim poderei trocar
o meu chapéu negro
por minha cartola de mágico
rompida com o muro
transposta a agonia
é assim que um dia beberei
a água guardada no meu chapéu
e poderei então fazer a minha viagem sem passaporte
porque não tenho preço
porque não sou um beco
sou um enxame furando as linhas
copulando com as bússolas
em direção ao templo
quero então abrir o meu armário
arrebentar todas as portas
quebrar todos os vidros
porque eu tenho luz demais
para mentir.
segunda-feira, 7 de março de 2016
quarta-feira, 2 de março de 2016
Poemas
Sutil como um arco
murmurante como as margens de um lago
como um piano banhado pelo sol
invadindo uma cortina transparente
numa manhã difusa
chega manso como a água que se enrola na areia
traz na voz a preguiça das estrelas do mar
será um astro?
esta luz que atravessa a aminha cabeça
e me embrulha numa paisagem azul
um descobridor
um pólen amarelo
uma vertente
uma linha percorrendo o bosque
uma colmeia
uma coluna
uma lua abraçando países.
Histórias Acumuladas
Este terno de cristal
deverá ser enterrado
com as chaves de sangue
desta fechadura indomável
pomba sóbria
o resto do meu silêncio
vai encher o meu punho
com as histórias acumuladas
deste berço guerreiro
onde a minha mão metálica
acendeu a lâmpada de um despenhadeiro
que me espera no último nervo
que forma a cordilheira desta cabeça
de deuses vermelhos
nesta extensão imaginária
onde finquei a minha raíz
territorial e fértil
não tiro mais o chapéu útero
mas vou doar a ponta brilhante
da minha espada
vou doar a sucuri devoradora
o resto das minhas unhas
e para o roxo dos meus olhos
farei o resumo de um ritual
sem rumo
e vou como um dardo
esconder minha cabeça
na ponta das minhas botas
e quero ver meu sangue
transformar o liquido do meu cântaro
em historias selváticas de esmeralda e quartzo
o resultado de uma escalada
onde a dinastia teceu
de graus absurdos
e vou me arrastando
pelos paredões
desenhando a minha lua roedora
na minha pálida tela assustada
não darei a minha carta a ninguém
ninguém andará pelos caminhos
do meu mapa
nem uma gota d’água
apenas uma ventania
de espinhos
quero ficar só
apenas a sombra da minha estátua
apenas o imóvel dos meus andaimes
apenas o sabor da arquitetura
onde montei a minha mesa
de catedral
para viver com os pássaros
com as águias
em direção ao mel das abelhas
porque este mundo é meu
aos jacarés vou entrega-lo
porque é imóvel a noite que precedeu
as minhas penas carnívoras
voltem todos as suas origens
porque é só minha
a montanha hierárquica
onde dorme o albatroz gigante
a azul gigante deste teatro assassino
onde os personagens estão
pendurados na transparência
hierárquica das minhas lágrimas
mas fale
deixo-te falar
das linhas solitárias abrindo
lâminas neste meu segredo despido
onde cada silaba tem a linguagem
das palavras vazias
onde os soldados cheios de dentes
dormem com seus vagalumes
enlouquecidos
como foi quando transformei
o sonho em larva
as borboletas amarelas em acido
e fiz a cerimonia
onde ficarão as minhas pegadas meladas
para um mundo que é a amarga
fome de um estandarte
mentiroso
e
triste.
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